domingo, 11 de maio de 2014

AS MINHAS SOMBRAS



As minhas sombras



Apesar da força do sol, o dia tornou-se cinzento
Deixa-me sem forças para o olhar de frente
Choram-me os olhos não sei se do vento
Ou do tempo que me deu este andar lento
Que a breves momentos pensei ser diferente

Abrigo-me em sombras que já não existem
No céu cinzento da minha vontade
Ténues centelhas que ainda resistem
Como se velhos caminhos de novo se abrissem
Penosos caminhos de realidade

Fico parado e sem rumo certo
Virado para o norte do meu sul perdido
Voou contra o vento que me sopra incerto
Já sinto na pele, todos os desertos
De tantos desertos que tenho vivido

Tentar fugir não me serve de nada
Estou preso a ti por este cordão
Andarei para sempre nesta longa estrada
Tu és sombra por mim procurada
O dia cinzento tem toda a razão

Se sol romper as sombras do medo 
Medo que eu tenho de o perder
Será sempre parte do nosso segredo
Morrerá em mim mais tarde ou mais cedo
Todas as sombras eu hei-de vencer

As sombras na terra parecem arados
Figuras de outrora onde me revejo
Foices que cortam o pão inventado
Caminhos de terra do chão do passado
Terra escaldante do meu Alentejo.

Jorge Caraça